Santo Cristo e o Carnaval
A fuga da realidade segue por outros aspectos da vida humana, não
só no profano, também no religioso. Se o reinado do momo é a festa da carne,
tem a festa do espírito que procura em vão a mesma coisa: anular a dureza das
desventuras terrenas. Em vão, porque usa um “santo Daime” — chá com poderes
alucinógenos — oferecido num cenário fantasiado com promessas que entorpecem a
mente e o coração. Este “carnaval” tem nome e endereço, um espetáculo da glória
que esconde a cruz nos bastidores e mantém o sofrimento humano fora das
passarelas. Doenças, pobreza, miséria, dor? Isto foi anulado em nome de Jesus –
pregam eles. Puro analgésico que mascara a real enfermidade.
Entre fantasias e adereços, neste Domingo do Carnaval os
cristãos celebraram a Transfiguração do Senhor (Mateus 17). Num retiro, três
discípulos puderam ver o trailer da glória celestial onde uma luz intensa
resplandeceu do corpo de Jesus. Não eram efeitos especiais. Era a realidade do
esplendor celestial. Deslumbrado, Pedro quis armar barracas e ficar ali mesmo.
Esqueceu que precisava descer do monte, pegar a sua cruz e voltar para o vale
da sombra e da morte.
É preciso descer e ter os pés no chão. Como? Para os enlutados das
27 vítimas de Santo Cristo, só mesmo Cristo, o Santo. Até o Carnaval foi
suspenso nesta cidade, pois a morte não usa máscaras.
Restou apenas a quarta-feira de cinzas. Mas o que este Cristo pode
fazer? Pedro, em outro episódio, depois que muitos seguidores abandonaram Jesus
porque os milagres haviam cessado e restava apenas a cruz — foi enfático: “Quem
é que nós vamos seguir? O senhor tem as palavras que dão a vida eterna! E nós
cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou” (João 6.68-69).
Na marchinha de Carnaval “Pastorinhas”, Noel Rosa cantava que “a
estrela d’alva no céu desponta”, para depois lamentar “meu coração não se cansa
de sempre, sempre te amar”. Triste canção de um amor não correspondido num
mundo cheio de desilusões. Por isto o hino do amor que sempre corresponde e não
ilude, amor daquele que disse: “Eu sou a brilhante estrela d’alva” (Apocalipse
22.16).
Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do
Brasil em Novo Hamburgo-RS
Tenham todos uma ótima sexta-feira.
Fiquem com Deus.
Noimix.
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